O papa Francisco abraçou, literalmente, Rio Preto e região ontem na inauguração do "Polo de Atenção Integrada à Saúde Mental - PAI", um centro de recuperação de dependentes químicos, dentro do complexo Hospitalar São Francisco de Assis, na Tijuca: emocionado, o sumo pontífice levantou-se da cadeira fabricada por recuperandos do Lar de Jaci e foi abraçar o jovem Liard Cassiano Silva Reis, um rio-pretense que, aos prantos, deu seu testemunho de recuperação.
Em seguida, papa Francisco recebeu, com novos abraços, um presente especial levado a ele por dois jovens, filhos de ex-dependentes: Maria Clara de Angelo, de 13 anos, e o amigo Carlos Francisco Britto, 15 anos, entregaram uma imagem de São Francisco de Assis feita pelo artista de Mirassol Milton Pestile e um pequeno ramalhete de tulipas ao papa Francisco.
"Voltei a ser amado e voltei a amar as pessoas. Sai dessa vida. Me tornei uma pessoa melhor e aprendo cada dia mais gaças a Deus e graças a essa instituição que através de Deus me devolveu a vida, a minha dignidade e me ensinou a amar as pessoas", disse Liard Cassiano, contando ao papa como se livrou das drogas em uma das instituições mantidas pelo frei Francisco, de Jaci.
"Santo padre, o coração misericordioso da igreja está aqui, abraçando a missão de transformar esse lugar em uma escola de santificação, onde aprendemdos com os enfermos e aplicamos o maior medicamento chamado amor. Santo padre, quero agradecê-lo imensamente pela sua presença entre nós. E dizer ao senhor que o primeiro ato que fizemos nessa casa foi abrir as portas ao serviço público de saúde", disse frei Francisco Belotti, administrador da entidade inaugurada ontem e anfitrião do papa.
Ele acrescentou: “Somos uma fraternidade que nasceu sob impulso do espírito santo, no coração da igreja, na diocese de São José do Rio Preto, estado de São Paulo. Sob a liderança desse corajoso pastor Dom Orani Tempesta (arcebispo do Rio e ex-bispo de Rio Preto, que estava presente), do qual somos eternamente gratos. Te amamos, Santo Padre", complementou o frei.
Confira o testemunho lido ao Papa Francisco:
Me chamo Liard Cassiano, sou um dependente químico em recuperação. A minha vida no mundo das drogas, igual a da maioria dos jovens, começou muito cedo, na adolescência. Um garoto novo, querendo conhecer tudo, em um lar desestruturado, onde meu pai não era nem de longe exemplo para mim e minha irmã. Aí foram aparecendo muitos dos meus defeitos de caráter. Alguns tão grandes que até hoje luto contra eles. Casei com uma pessoa maravilhosa, mas não dava valor. Deixava ela em casa sozinha, para ficar me drogando com outras pessoas. Isto foi muitas vezes, até que ela não deu mais conta. Me abandonou. Isso para mim foi ótimo. Fui para o mundo, pois era cheio de amigos. Onde passei a usar drogas todos os dia, sem interrupção.
Deixei de lado todas as minhas responsabilidades como pai, como filho e no trabalho. Ao invés de ajudar a mãe do meu filho, comprando leite, fraldas e dando carinho para ele, preferia estar me matando com o uso de drogas. No final de 2010, foi o início do meu quase fim. Meu pai veio a falecer, devido ao alto consumo de álcool. Usei isso como fuga e me acabei nesse mundo. Perdi todos os meus bens materiais, perdi minha dignindade, já não possuia mais o respeito de ninguém.
No final de 2011 tentei parar, mas não consegui. Já estava no fundo do poço, já não trabalhava mais, fazia alguns bicos para manter meu vício. Em um deles, um primo ofereceu ajuda. Não aceitei. Passado algum tempo, peguei uma quantia de dinheiro e fiz um alto consumo de droga e tive certeza que ia me suicidar. Falei a mim memso que não queria mais aquela vida, ser motivo de desgaraça para ninguém. Mas Deus não quis isso, fez com que eu fosse a casa do meu primo, e ele fez questão de me ajudar. Fiz triagem no dia 2 de maio de 2012 pelo AME e no dia 8 de maio de 2012 já estava internado. O lugar que me acolheu chama Associação São Francisco de Assis. Fiquei na cidade de Presidente Prudente. Esse lar me ensinou o evangelho. Me mostrou a palavra de Deus.
Me encontrei com ele e hoje vejo ele em todas as coisas. Voltei a ser amado e voltei a amar as pessoas. Sai dessa vida. Me tornei uma pessoa melhor e aprendo cada dia mais gaças a Deus e graças a essa instituição que através de Dues me devolveu a vida, a minha dignidade e me ensinou a amar as pessoas. Tudo que aprendi com esse lar estou colocando em prática aqui fora, com a Pastoral da Sobriedade. Enfim reconquistei minha família, minha dignidade e o respeito de todos. Essas pessoas do Lar São Francisco me resgataram das trevas e nada do que eu faça vai ser suficiente para agradecer o que todos fizeram por mim.
Fonte: www.diarioweb.com.br
25/07/2013
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