“Um acolhido nosso, que se encontra sóbrio, está recuperando a sua vida depois de instalar uma horta no quintal, de onde está tirando o seu sustento e de sua família com o conhecimento adquirido aqui”. Este relato é sobre um ex-acolhido no Lar São Vicente de Paula - casa de apoio a dependentes químicos -, feito pelo frei Felipe Salatiel, responsável pela unidade localizada na cidade de Estrela d’Oeste e ligada à Associação São Francisco de Paula, com sede na cidade de Jaci, no noroeste paulista.
Passados quase cinco anos do início da parceria entre a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI) e a Associação, com cursos básicos de plantio e manejo em horticultura com base agroecológica, o momento é de celebrar os frutos. “A nossa parceria com a CATI teve início com cursos, capacitações e transferência de conhecimento para os nossos acolhidos; aqueles que identificamos terem maior aptidão para o trabalho no campo. Com o aprendizado adquirido, foi possível chegar a este patamar de iniciar o processo de transição agroecológica, pois, como franciscanos (seguidores de São Francisco de Assis, patrono da ecologia/meio ambiente), é uma felicidade poder consumir e fornecer alimentos saudáveis, produzidos com respeito ao meio ambiente”, comenta frei Felipe.
Responsável pela Casa da Agricultura de Estrela d’Oeste, a engenheira agrônoma Monalisa Vergínia Felicio Ferreira, que deu seguimento ao trabalho de extensão rural, iniciado em 2019, junto à Associação, relata a importância do projeto. “Este trabalho é um marco que alia extensão rural e assistência social, enfatizando o nosso compromisso, como técnicos da CATI, com a qualidade e transformação de vida das pessoas no meio rural, com reflexos no urbano. Quando iniciamos as ações, direcionamos as ações com enfoque na produção orgânica. Então, entregar esta Declaração de Transição Agroecológica para o Lar São Vicente de Paula representa a concretização de um trabalho conjunto e um sonho comum”.
De acordo com Monalisa, cada unidade produtiva atendida pela CATI que adere ao Protocolo de Transição Agroecológica recebe um certificado, após cumprir os requisitos (não usar materiais transgênicos, nem adubos e defensivos químicos) e ter efetivado seu Cadastro Ambiental Rural (CAR). Como o Lar São Vicente de Paula não é uma unidade produtiva com CAR, eles receberam a Declaração de Transição Agroecológica, documento equivalente ao certificado recebido por outros produtores que participam do processo, que pode durar até cinco anos. “Nesse período, a unidade produtiva é acompanhada por um extensionista que aplica um questionário e, com base nas respostas, é elaborado um plano de trabalho. São estipuladas metas para o período em que a unidade está participando da transição e, todos os anos, é reaplicado o questionário para avaliar se as metas estipuladas estão sendo alcançadas”.
Sobre o recebimento da Declaração de Transição Agroecológica, frei Felipe fala com alegria. “Temos o privilégio de poder contar com a parceria com a CATI, que, há anos, vem nos auxiliando, trazendo novos conhecimentos em produção orgânica, para o melhor desenvolvimento das nossas atividades laborterápicas, com nossos acolhidos, dentro da instituição. A cada ano que passa, os cursos diversos e as novas técnicas trazidas pelos instrutores da CATI permitem que nossos acolhidos saiam daqui com uma bagagem muito maior de aprendizado. E, agora, receber esta Declaração representa um passo gigantesco, quando olhamos onde estávamos há alguns anos. Tem sido um caminho árduo, mas gratificante, para tornar nossa produção 100% agroecológica. E, por isso, começamos a ter novos sonhos de, se Deus quiser, possuir uma área maior de produção e, quem sabe, até instalar uma horta comunitária na cidade. Mas a nossa maior certeza é que queremos cada vez mais estreitar a parceria com a CATI e continuar criando pontes para a transformação de vidas”.
Expansão do trabalho e comercialização
O trabalho conjunto com a CATI deu tão certo, que de acordo com frei Felipe, a direção da Associação decidiu expandir a experiência. “Os resultados do projeto - que são magníficos, com o aumento da qualidade e quantidade de alimentos para consumo próprio Lar São Vicente de Paula e na unidade que atende mulheres no município vizinho de Santa Fé do Sul; e de renda, com a comercialização do excedente da nossa unidade em Estrela d’Oeste - fizeram com que a diretoria decidisse expandi-lo de Estrela d’Oeste para outras unidades, como as localizadas em Pirajuí, Presidente Prudente, Tabapuã, Jaci, Álvares Machado e Pirapozinho”.
O modelo adotado para comercialização é outro diferencial da Associação. Em Estrela d’Oeste, a agrônoma Monalisa destaca a relação de confiança estabelecida entre os “produtores” da Casa da Apoio e os consumidores. “A produção excedente é vendida no município de Estrela d’Oeste de uma forma muito interessante, em pontos fixos do comércio local. A produção bem diversificada de folhosas, leguminosas e raízes é colocada em bancas instaladas estrategicamente em frente aos comércios que cedem o espaço. A diferença é que não tem ninguém para fazer a venda; o cliente coloca o valor a pagar em uma caixinha e leva seu produto”, conta ela, sendo complementada pelo frei Felipe: “Nunca faltou dinheiro na caixinha, pelo contrário, sempre colocam dinheiro a mais. E todo recurso obtido é reinvestido nas casas de apoio”, explica, comentando que, semanalmente, só de alfaces (carro-chefe) são comercializadas mais de 210 cabeças, além de rúcula, cheiro-verde e outros.
Matéria: Site CATI